Seria um sonho ?

No terceiro dia consegui abrir meus olhos mas tudo parecia um grande sonho.
Na minha memória, o que eu entendia era que em um momento levantei para ir ao banheiro e em outro estava em um quarto, com acesso de medicamentos em meu braço, monitor de pressão em minha perna, minha filha me olhando como se algo de errado estivesse acontecendo.
Não, eu não tinha a percepção do que havia ocorrido.
Com o meu despertar, os estragos começaram a ser percebidos. Tive afasia, uma lesão do lado esquerdo do cérebro que impediu a minha fala e reconhecimento. Havia uma paralisia nos membros do meu lado direito, inclusive em meu rosto.
Minha filha mais velha também ouviu o médico dizer que eu não voltaria mais ao normal, mas crendo que a última palavra sempre vem de Deus, se posicionou do meu lado direito, estendeu a mão em minha direção e disse:
- Mãe, dá um "high-five". Vamos mãe, dá um "high-five".
Comecei a movimentar o meu braço com extrema dificuldade e consegui tocar na mão da minha filha.
Cremos que Deus não faz nada pela metade e que a cura estava começando a brotar.
Deus poderia me curar instantaneamente, porém a cura começou a acontecer em um processo lento, diário, com algumas melhorias nos comandos e respostas.
Meus familiares quando me viam acordada desejavam conversar, queriam que eu de alguma forma me comunicasse demonstrando o que estava sentindo, se dor, fome, ou qualquer outro sentimento.
Todos pensavam que eu voltaria a falar de um dia para o outro, porém o meu cérebro precisaria construir um novo caminho entre a fala e o reconhecimento e o meu corpo precisaria ser submetido à muitas sessões de fisioterapia. Eu estava confusa, não reconhecia as pessoas apesar dos rostos serem familiares, não conseguia falar absolutamente nada.